domingo, 30 de dezembro de 2012

Texto...

NAS ENTRELINHAS DO AMOR - FINAL


Cheguei a minha casa pensativa o que ela havia me dito. Por mais que eu quisesse esquecer, não conseguia tirar aquelas palavras da minha mente. Naquela noite não dormi.
No dia seguinte cheguei ao Jornal com uma enorme dor de cabeça, Lucy me perguntou o que eu tinha, mas o meu orgulho não me deixou responder a verdade, disse que fiquei trabalhando até tarde e não consegui dormir, causando a dor de cabeça. Mais café?
— Não, obrigada.
— Como estava dizendo, a dor durou o dia inteiro. Lucy me deu algumas indiretas, dizendo: “Parece até que o Espírito Santo te incomodou à noite.” Ela sempre pregava para mim, falava sobre Jesus. Esses tipos de assuntos sempre me repugnavam, mas com o tempo ela me convenceu sobre algumas coisas.
— Perdoe-me interromper, mas que tipo de coisas?
— Tudo bem, do tipo, a existência do Espírito Santo. Ela provava cada palavra que dizia, pediu-me que orasse todas as noites para Deus, mesmo não acreditando, só por curiosidade de ver se a resposta seria dada. Realmente uma curiosidade veio sobre mim, então, em uma noite qualquer, pus-me a ajoelhar-me em meu quarto dizendo as seguintes palavras: “Não sei começar uma conversa com algo a qual nem tenho confiança, então, prove-me que tem poder, aí poderemos conversar. Amém.” Sabe minha querida, eu disse essas palavras por dizer, mas alguém lá em cima havia escutado.
— Por que diz isso?
— Porque naquela noite tive um sonho com John, um sonho diferente, parecia uma visão, nele, eu o reencontrava. Venha, vamos à sala, te mostrarei algumas fotos de John e eu quando crianças. Sente-se, por favor.
— Sim, obrigada. Vocês eram lindinhos, é, foram feitos um para o outro.
— Ah, minha querida, obrigada. Nós já éramos um só desde pequenos.
— É um amor que nunca irá se esgotar, não é?
— O amor de Deus nos uniu, duvido que se acabe.
— Continue a história, estou ansiosa.
— Como quiser, bem, após o sonho, não consegui não contar para a Lucy. Quando contei a ela, suas lágrimas foram evidentes, sua emoção foi maior que a minha. Abraçou-me dizendo que a minha resposta estava dada, perguntei o porquê. Ela me disse que teve um sonho mostrando que eu teria um sonho com o homem da minha vida. Na hora, não tive como não chorar, era realmente a resposta. A partir desse momento comecei a ir a alguns cultos, a orar constantemente. Com o tempo, fui deixando Deus conduzir a minha vida, que mudou completamente.
Todas as noites orava para Deus trazer John perto de mim, para que eu o reencontrasse. Minhas esperanças eram infinitas.
Assim segui a minha vida, com uma rotina totalmente diferente do que eu vivia.
— E aquele orgulho que você tinha estava dentro dessa nova rotina?
— Não minha querida, esse orgulho foi extirpado da minha vida.
— E John, onde entra nisso?
— Acalme-se, já, já ele entra em cena.
— Sim, perdoe-me.
— Tudo bem. Sabe, após algum tempo frequentando a igreja, resolvi entrar para a equipe de ajuda, essa equipe ajudava dependentes químicos, alcoólatras, drogados, etc. Lucy e eu fomos convocadas para uma visita numa Clínica de Reabilitação. Era de renome, muito grande, com capacidade para 500 pacientes. Passamos por alguns corredores. Em cada porta havia uma lista dos nomes dos pacientes que ali estavam. Foi quando um nome me chamou a atenção “John Cohener”. Eu não queria acreditar, mas este era o nome do meu John. Não pensei duas vezes e abri a porta, ele estava no quarto três, dirigi-me até lá como um relâmpago, quando cheguei, não, os meus olhos não queriam ver, mas viram, era realmente o meu John. Ele estava com um semblante horrível. Quando me viu, olhou perplexo e disse o meu nome, fui até o seu leito e o olhei com carinho. Eu havia reencontrado John.
— E ele era um drogado ou um alcoólatra? Com todo o respeito.
— Tudo bem. Ele era um drogado, estava na clínica há cinco meses. Eu disse a John que nunca mais o deixaria com a mesma sinceridade que ele dizia coisas lindas para mim.
John saiu de lá após dois anos, fiquei ao lado dele a cada dia. No começo foi difícil, mas Deus sempre nos deu força para continuar. Nós líamos a Bíblia periodicamente. Ele disse que o seu pai havia falido, e que isso foi um caminho aberto para as drogas.
Lucy parecia mais feliz que eu, ela sabia mais do que ninguém que esse reencontro aconteceria. John saiu com vinte e sete anos, eu tinha vinte e cinco. Nós nos casamos no mesmo mês, posso dizer, com toda a certeza que a nossa história foi totalmente escrita pelo Senhor.
— Que história linda senhora Any. Peço permissão para publicar essa conversa que tivemos na coluna: “Escritores que ficaram para a história” do Jornal The New York Times, a equipe ficaria muito feliz.
— Claro, eu é que fico lisonjeada, você sabe, não é, uma coisa é ter vinte e cinco anos e ser admirada pelo que escreve, outra coisa é você ter sessenta e nove e ser lembrada por uma história de amor.
— A senhora sempre será lembrada, é uma das principais escritoras da nossa época.
— Obrigada minha querida Sally, aliás, como vai sua mãe Lucy?
— Como? A Lucy a qual estava falando era a minha mãe?
— Sim minha querida.
— Mas porque ela não me contou essa história?
— Pedi a ela segredo, mas acho que não é mais.
— Mais uma vez senhora Any, quero agradecê-la pela história exclusiva, o café estava delicioso. Agora, infelizmente preciso ir. Aliás, onde está o senhor John?
— Por nada minha querida. John está no quarto descansando.
— Mande minhas considerações a ele, por gentileza.
— Sim, mandarei.
— Até logo.
Jornal THE NEW YORK TIMES, dia 7 de julho de 1994. “Morre a escritora Any F. Cohener e seu marido John Cohener de falência múltipla dos órgãos.”


P.F. Filipini 

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